quinta-feira, 5 de maio de 2016

Medalha da articulação

Na última edição de entrega das medalhas Cruz e Souza em Florianópolis, dentre muitas pessoas ditas relevantes para a cultura, chamou atenção uma delas contemplando a dirigente cultural, e do MASC, sra. Ligya Roussenq Neves. O destaque é que não foi indicada como dirigente de alguma entidade e sim como destaque nas artes plásticas.
Sinceramente, aos artistas que são obrigados a enfrentar a burocracia para produzir seus trabalhos, sabendo da medalha dessa senhora parece que agora ganhar essa honraria basta ter muita articulação. Pois, conhecendo o poder de carisma dessa dirigente, é fácil deduzir que agora a pessoa não precisa de talento, basta ser amiga de políticos e frequentar gabinetes dos poderosos para ser contemplada com medalhas. O currículo dessa senhora, sempre recheado com ótimos empregos na esfera cultural no estado e pouco destaque como artista plástica, a ela agora temos que perguntar: Quais as últimas exposições no Brasil? em Santa Catarina? ou mesmo num bairro de uma cidade qualquer do interior? Mas, se ela não conseguir responder, temos que procurar na internet, aí, alguém interessado na produção artística do estado, não encontrará nenhuma, a não ser de jóias. Só isso. Mesmo assim, amigona de políticos, também de alguns artistas destacados, e de outros apenas interesseiros, ela vem conseguindo suas vantagens profissionais e, agora, até medalhas. Palmas para ela. 
Pior, não quero nem pensar na sua próxima meta, será a presidência da FCC? Aí, coitados dos artistas no estado, exceção dos seus amigos, estarão abandonados e perdidos. Ou quem sabe, agora contemplada com medalha, não está almejado algo muito maior, como uma luxuosa exposição, paga com dinheiro do contribuinte, num centro cultural de Paris? De Madri? Quem sabe na Disneylandia? Em Las Vegas com Romero Brito? Depois, vai ver, sonha aparecer numa revista de fofocas, ainda por cima representando os artista catarinenses? 
Como já vi de tudo na vida, não me assusto com mais nada, nem com o bicho papão e nem com a medalha e outras conquistas resultantes da articulação dessa senhora dirigente cultural, digo, artista plástica.

Tácio Morais Neto,
escritor. 
                                                                                
(Tácio Morais Neto é heterônimo do artista plástico Cesar Otacílio).

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Release LIVRO A SOLIDÃO DO LAGARTO

  LANÇAMENTO DO LIVRO:
 A SOLIDÃO DO LAGARTO.


    Eu, TÁCIO MORAIS NETO, escritor, 55 anos, estou divulgando meu livro:
A SOLIDÃO DO LAGARTO.
O lançamento esta programado para o início do próximo ano.
 Romance com 216 páginas e 13 capítulos.
 Narra a aventura do personagem conhecido pelo epíteto LAGARTO, homem insatisfeito que abandona tudo, o emprego, a cidade onde morava, as pessoas com quem convivia e, sozinho, vai morar numa barraca em praia silvestre de Florianópolis, a praia da SOLIDÃO.
 Lá fez amizades, viveu perigos, romances, aventuras, e aprendeu valores simples da vida.
Através da sua experiência, um olhar sobre liberdade de viver, paixões passageiras, companheirismo, diversão, prepotência, cobiça, e extrativismo de aventura.
Sobreviver dependia do que o mar oferecia.
Apresenta, uma paisagem natural antes da invasão humana com carros, casas com esgotos, pousadas, bares e restaurantes para turistas.
Depois daquele acampamento, ele nunca mais foi o mesmo, a praia nunca mais foi a mesma, nada mais foi igual.
Se teatro fosse, o mar e o meio ambiente selvagem seria o palco, a aventura do Lagarto, um roteiro que poderia ser vivido por qualquer pessoa, destituída de rótulos e apaixonada pela natureza.

Conheça um trecho da obra:

...Nome?
Pode ser qualquer um,
não tem a menor importância.
Nome sozinho não muda fatos, não faz historia, não é peso, nem medida.
O valor do nome, está na personalidade da pessoa, nas historias que viveu, nos acontecimentos que passou.
 Para um nome ter valor, não basta ser bonito, ter pronuncia musical, ser herança familiar. Isto não vale nada.
 Ele mesmo, sabe
porque,
 o seu,
já foi nome do avô, tem pronuncia  agradável, gosta de ouvi-lo, não se cansa de repeti-lo. Teve sorte de receber o nome que tem. Não consegue pensar outro melhor para si. Revelaria de bom grado, se o considerasse importante nos fatos que vivenciou.
Sua historia não é seu nome.
Já, seu nome, é algo seu, não interessa a ninguém.
Assim...

-Não tenho a menor intenção em anuncia-lo.

Ele diz...
 Mesmo porque, nome não traz respeito, é conseguido pela soma dos resultados, ações e atitudes, nunca pelas palavras na carteira de identidade.   Isto, ele sabe muito bem.
Sabe também, que um João pode ser patrão, outro, ladrão.
 Um Sebastião escrivão, outro, apenas Bastião.
 Um Jorge gente boa, outro, safado sem vergonha.
 José, nem todos são santos. Maria, algumas não são boas mães.
 Cristo, pode ser nome de criminoso.
 O mesmo pensamento, aplica-se ao sobrenome:
 importância nenhuma, valor zero.
 Então revelar seu nome, ou seu sobrenome, não vem nenhum pouco ao caso. Pelo mesmo motivo, diz:
            -Não revelarei nomes dos personagens com passagem na minha historia.
 Por respeito?
            -Talvez.
 Quem sabe.
 Pouco importa.
 O importante é que no auge da sua energia física estava insatisfeito.
 Com o trabalho?
 Reflexo da idade?
 Sonhos não realizados?
Nunca soube definir ao certo, ou precisar outros motivos mais convincentes,
Sabia apenas, precisava mudar vida monótona...                           
                   (Trecho: capítulo I / Nome? Para ele nome não tem muito valor.)

domingo, 26 de dezembro de 2010

Trechos Do Livro: A Solidão do Lagarto

                  


Trechos do livro:
A
 SOLIDÃO
DO
LAGARTO

Romance de:
Tácio Morais Neto
Este livro, é dedicado a minha filha, e ao que deve ser livre:
Homens, animais, pássaros e pensamentos.

Nota do autor:
Na década de um mil novecentos e oitenta, ainda era fácil encontrar praias selvagens em Santa Catarina.
Na época, gostava de instalar-me em lugares distantes das aglomerações urbanas, para descobrir praias despovoadas e lugares com natureza inóspita.
Neste, meu primeiro livro, romance inspirado nestas façanhas, o personagem conhecido pelo epíteto Lagarto, vive sozinho numa praia silvestre de Florianópolis, a praia da Solidão.
  Através, deste personagem, aspectos de atributos humanos e, a transformação de uma praia deserta em vila de veranistas abastados.
   Na aventura do Lagarto, um olhar sobre amizade, companheirismo, diversão, liberdade de viver, paixões passageiras, prepotência, cobiça, natureza selvagem e extrativismo de aventura.
   Se teatro fosse, o mar com e o ambiente selvagem seria o palco, a aventura do Lagarto, um roteiro que poderia ser vivido por qualquer pessoa, destituída de rótulos e apaixonada pela natureza.


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Trecho (parte II) /capítulo I-
                                    NOME ?                                                                                                     
                                   Para ele, nome não tem muito valor.
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   ... ele, ainda estava com a marca da batida na testa, a enchente ainda era recente, quando novo roubo na sua casa aconteceu. Justamente, quando os anteriores já estavam, quase, esquecidos.
   Neste, foi, roubado, a nova maquina fotográfica, todo o estoque de cartuchos fotográficos, inclusive, os filmes com fotos da enchente (com certeza, o amigo do alheio considerou ser cartuchos virgens), roupas novas e novos discos.  
   Foi demais para ele.
   A gota da água.
   Sua insatisfação, logicamente, chegou ao limite.
 Não era pela enchente, pela velha casa de madeira, pelo emprego ou chefe de trabalho, nada disso.
 Sua insatisfação: Pelos covardes traidores que se aproveitam do que poderem, da enchente, da desgraça dos outros, da boa vontade dos outros, da ingenuidade dos amigos, dos objetos dos outros.
   Imediatamente, nasceu em si uma enorme vontade de mudar-se da cidade, sair da casa e do emprego.
   Com este objetivo,
   Poucos dias depois,
   Assim fez.
   Como primeiro passo ao pedir demissão, foi pagar contas, entre as quais, equipamento fotográfico e roupas novinhas, roubadas na ultima visita do amigo do alheio.
   Pensou durante alguns dias, sobre várias opções para onde mudar-se e, sem pestanejar, decidiu morar acampado numa praia deserta.
  Nem mesmo analisou direito sua decisão, ou pediu conselhos a pessoas em volta.
-Ficar longe de baixo astral.

Era só o que dizia. 
 Sonhando.

                        -Nem que fossem somente alguns dias.
 
Falava a quem quisesse ouvir.
  Sem perda de tempo, tratou de executar seu plano.
  O irmão, que tudo acompanhava, parecia meio assustado com a rapidez da decisão, estava duvidoso:
                      
                       -Morar numa praia? Deserta? Sozinho? Numa barraca? 

     Indagava.
 Talvez, achando não estar bom da cabeça, fosse seqüela da forte batida, cuja marca, ainda estava na testa.
                        
                         -Sim, sim !

Ele, respondia convicto...


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Trecho / capítulo II-

                                 A BUSCA PELO
                   MORAR SELVAGEM.
Mudança radical no modo de morar.

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...sozinho numa praia deserta e selvagem, longe de tudo, sem comunicação e hospital por perto. No caso de precisar, como faria? Como pediria socorro? Se ficasse doente, sem farmácia perto, como seria? Morreria de febre?       
                             
                              -É loucura ficar sozinho, coisa de louco...

Repetia.
 Antes de despedir-se, com mochila nas costas, o irmão continuava em dúvida, queria ainda ter, total, certeza de que ele sabia o que fazia. Perguntou-lhe, mais uma vez, se realmente, conseguiria viver numa barraca, comendo frutos do mar todo dia, já que não era o tipo de vida e alimentação habituado.
 Ele garantiu tudo estar bem, ficaria bem, estava onde queria, não precisava se preocupar.
  Despediram-se.
  Acompanhou-o até onde a vista alcançou.
  Depois, sentou-se no banco de bambu, na frente da barraca e do mar, totalmente absorto e emocionado.
Pela primeira vez na vida, morava num local completamente sozinho, no meio do mato, ouvindo apenas os pássaros e o mar.
  Feliz com a magia do momento, estava com os pelos eriçados e, coração disparado. 
Olhando o mar,
e o horizonte,
sentiu-se poderoso,
 ao mesmo tempo insignificante,
 com a grandeza e a beleza do local...



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Trecho / capitulo III-

                                      O NOVO ESTILO
                      DE VIDA.
                      Moradia inusitada, perigosa e desamparada.


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Dormia cedo, levantava cedo.
Cortar lenha, armazenar água, colher frutos no mar, nadar, descobrir frutas no mato, cozinhar, lavar louça, eram os afazeres domésticos e aventureiros. Escrever roteiros, desenhar e pintar estórias em quadrinhos, eram os trabalhos artísticos profissionais, procurava faze-los disciplinadamente.
    Lia muito.
    Um livro a cada três a quatro dias, mais ou menos.
    Jorge Amado, José de Alencar, Machado de Assis, Lindolf Bell, Drummond, Fernando Pessoa, Charles Dickens, Victor Hugo, Nietzche, entre outros, poesia chinesa, biografias de artistas, gibis, conhecimentos gerais.
                  
                   -Logo terei lido todos os livros trazidos. Após, relerei os que mais gostar.

      Pensava, enquanto fazia fogo no fogão-grelha, na intenção de preparar sopa com mariscos, siris e búzios.
      Não precisou de muito tempo para adaptar-se ao novo estilo de viver, rapidamente aprendeu a morar na   beira do mar com o mínimo possível de mantimentos comprados em supermercados e lojas.
     Sentia-se orgulhoso por dizer para si:
                    
                     -Adeus despesas com aluguel, prestações, água e luz.

Não tinha eletricidade, água encanada, rádio, televisão, jornal, chuveiro quente, carro, geladeira, e não sentia a menor necessidade disso.
Num fogão-grelha, feito de pedras no chão, fazia comidas deliciosas a base de frutos,  colhidos, na hora,
no mar.
Agora,
o quintal da sua casa...




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Trecho / capitulo IV


                    ALIMENTANDO
            LAGARTOS,
            VIVENDO COM COBRAS.
                    Para sentir-se seguro, precisou aprender segredos da natureza.

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... devido os alimentos que colocava para lagartos, era comum vê-los circulando próximo sua barraca. Não demorou muito e, seu acampamento, ficou conhecido como a toca do lagarto.

                    -É você que mora na toca do lagarto?

 Perguntava quem o encontrava na praia ou na cachoeirinha.

                      -O desenhista de estórias em quadrinhos?

Ali, nome não tinha importância, por isso, na praia da Solidão, chamavam-no: O homem da toca do lagarto.
Não demorou, logo passou ser chamado apenas de Lagarto. Assim, a partir desta época seu nome era apenas: Lagarto.
Todos, que por ali chegavam ( pescadores, surfistas, banhistas, veranistas),  só o chamavam de Lagarto, o desenhista de estórias em quadrinhos da Solidão.
Foi promovido de protetor, para o nome dos animais que protegia.

-Lagarto?
                        -Você é o Lagarto?
                        -Onde posso armar a barraca?

 Perguntavam respeitosamente os campistas, que chegavam a praia para acampar.

                      -Sim! 
                      -Pode armar ali, próximo aquela árvore.

Falava.
De repente, sem perceber, começava agir como se fosse o chefe da praia da Solidão.

                      -Precisam de ajuda?
                      -Não derrubem árvores, não joguem lixo,
                      -Alimentem os lagartos,
                      -Não matem animais.

Falava aos campistas.
Seu nome, é de pronuncia agradável, gosta de repetir e de ouvi-lo, por isso, nunca gostou de cognomes. Epíteto algum pegou nele antes. Agora, rapidamente recebeu um apelido e, este pegou. 

                       -Lagarto?

Acostumou-se com o nome de guerra.
Admirador destes animais, ficou mais integrado com o local. A partir, sentia-se fortalecido para brigar de igual com qualquer ofídio, briga do tipo, réptil contra réptil. Por isso, falava alto em direção ao mato:

                      -Cobras Coral, cuidado, o bicho vai pegar, um lagarto vai pegar vocês.

  Mandava recado, como se cobras Coral, especialmente aquela, sua bela vizinha, ferida por ele no ultimo encontro, o entendesse...


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Trecho / capítulo V




           NA
                    SOLIDÃO,
           LEMBRANÇA DO AZULÃO.
                           Ele não queria, mas aquelas lembranças não saia
                                               do pensamento.

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 ...de manhã algazarra de Aracuãs e Saracuras. Tucanos ao meio dia na árvore, em cima da barraca. Canto do sabiá preto ao anoitecer. Pintassilgo, Azulão, Saíra, Periquito, Papagaio, Gavião, Coruja, Bem-te-vi, todos muito vistos. Emocionavam pela beleza e canto, vê-los e ouvi-los era motivo de alegria.
Mas, para Lagarto, nenhum pássaro emocionava igual azulão. Vê-lo e ouvi-lo entristecia-o. Não era pelo canto ritmado e melodioso, ou pela bela plumagem azul celeste, mas sim, pelas lembranças guardadas desde a adolescência com este pássaro canoro.
Sozinho, dias e noites na praia da Solidão, os sentimentos afloravam, a solidão apertava. Pensava na família, nos amigos, namoradas, na profissão, carreira que estava explorando e, nos desenhos que desenvolvia. Nestas horas, parecia errado ficar morando sozinho numa praia deserta, distante de tudo. Meditava sobre os acontecimentos marcantes que passou, os roubos na casa onde morava antes de chegar a praia, as amizades feitas, o tombo com pancada na cabeça e os dias desacordados no hospital, a enchente, as fotos da enchente não reveladas devido roubo dos cartuchos de filmes, a empresa onde trabalhava, o enterro de um homem debaixo de uma árvore durante a enchente, a cobra que matou; tudo emocionava vivendo na solidão.
As vezes,
 por conta disso,
chorava.
Mas...
Nada emocionava e o entristecia, mais, que a presença de um Azulão cantando perto. Esta espécie de ave não trazia boas lembranças, recordava fatos que, a muito tempo tentava esquecer, apagar dos pensamentos...


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Trecho / capítulo VI-

                    PAEJA NA SOLIDÃO.
                    Conhecendo novos amigos e novas comidas.                               

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...No decorrer do verão, festas, era um acontecimento corriqueiro. Bastava um violão e alguém a tocar, para todos acampados reunirem-se para cantar músicas conhecidas, preparar comidas a base de frutos do mar, beber caipirinhas sem gelo ou vinho na temperatura ambiente. No calor das cantorias, instrumentos de percussão podia ser atabaque, tambor e, até caixas de fósforos, panelas e tampas.
  Um detalhe chamava atenção, de Lagarto, quando estas reuniões aconteciam. Era comum observar a desenvoltura e o desprendimento das pessoas em relação a qualquer discriminação. Um exemplo, que deixava isto claro, quando num almoço, ou jantar, a quantidade de pratos e talheres ser menor que o das pessoas, ver um campista passando seu prato ao outro, ao lado, com comida, talheres e, tudo. Quem o recebia, dava algumas garfadas e o devolvia, ou passava adiante. Assim sucessivamente, naturalmente, todos comiam as mesmas comidas, nos mesmos pratos, com a boca nos mesmos talheres. Ninguém pensava em doenças transmissíveis, ou algo do gênero.
  Parecia uma comunhão dos iguais, tendo como pano de fundo o mar da Solidão. Lagarto, geralmente, nestas ocasiões, meio alto da bebida, ficava imensamente feliz por estar ali, na praia da Solidão. Dificilmente, a mesma coisa aconteceria em locais com grande quantidade de gente soberba.
 Pensando,
sobre isso,
sorria para si próprio, feliz consigo mesmo.
Na Solidão, Lagarto, conheceu muitos amigos novos, entre tantos personagens, um merece destaque: O espanhol da paeja da virada do ano...


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Trecho / capítulo VII


                     ENCONTROS
             AO LUAR DA SOLIDÃO.
               No calor do verão, segredos são revelados.

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...Amores,
 passageiros,
aconteciam.
 Um dia,
uma semana,
valia enquanto durava.
Um caso, em especial, marcou o verão de Lagarto. Durante um tempo teve uma relação amorosa com uma mulher, linda, sorriso aberto, corpo provocador esbanjando energia. Único defeito: Casada.
Tudo começou na praia, numa noite de lua cheia, quando Lagarto corria com sua cadela Tulipa, algo que costumava fazer em noites de luar.
Nesta noite,
a praia estava prateada,
o mar estava prateado,
tudo estava iluminado com prata e amarelo limão.
 A lua deixava Tulipa feliz, corria, pulava, queria brincar, disparava na frente e para os lados. 

                             -Deixa o siri, Tulipa...Não corra atrás dos caranguejos...Tulipa...

Falava em voz alta.
Por vezes e raramente, casais eram avistados, andando de mãos dadas, sentados, apreciando o mar, ou deitados na grande pedra no final da praia, nus, até.

                            -Sai daí Tulipa... vem Tulipa, vem....

 Chamava-a, assobiando, o assobio para chamar cachorros. Sabia, sua intenção canina era sempre agradar, chamar atenção, apenas. Com certeza, pretendia isto quando foi cheirar os pés das duas moças que também andavam na praia, ao luar prateado e  amarelo limão. Queria lamber suas pernas, a cauda balançava, indicando querer amizade. As moças abaixaram-se e começaram acariciar sua cabeça.
   Lagarto, se aproximou, não podia perder oportunidade de fazer amizade com novas pessoas, ainda mais, sendo belas mulheres e, em noite de lua cheia, quando o coração fica carente e romântico. Com pretexto de buscar sua cadela, aproximou-se, abaixou-se, também, para segura-la passando o braço no pescoço.
   Ao levantar os olhos, viu na sua frente, uma bonita morena, banhada pelo prateado da lua. Linda, sorridente, olhando-o bem de perto do rosto.
Lagarto, imediatamente apaixonou-se pelos cabelos negros brilhando ao luar, pela voz macia cumprimentando-o e, pelo sorriso aberto refletindo a luz da lua cheia...







---------------------------------------------------------------  Trecho / capítulo VIII-

                     SOLIDÃO
            DE AMORES EFÊMEROS.
                      Paixões passageiras, para ficar sempre nos pensamentos.
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...a traidora do marido, sua amante, continuava visitando-o.
Suas amigas, as, vezes.
Num dia, surpreendeu-o ao falar: 

                           -Olha, tenho um caso antigo, com um homem que esta aqui, na praia,
                            acampado. Na noite, irei para a barraca dele.

      A morena era incorrigível, enganava todos em sua volta. Ele não protestou ou demonstrou descontentamento, não tinha sentimento de ciúme.
      Ela o havia apresentado amigas, casadas, solteiras, para diverti-lo e mostrar seu jeito de agir, sabia disso. Então, entre eles, não existia sentimentos de posse, ele não tinha reclamação de nada, disse apenas: 

                              -Vá em frente, garota...

      Isto foi motivo de muita risada, para eles, cúmplices sem vínculos sentimentais.
      Na noite, ela foi para a barraca do seu caso amoroso mais antigo, sua velha paixão.     Agora, Lagarto, tinha conhecimento de mais um homem, dividindo com ele os amores da morena, além, do marido dela.                                                                                                                                   Interessou-se saber quem se tratava.
  Descobriu ser um dos campistas que chegaram, na praia, envoltos em péssima reputação, um dos parceiros do churrasco, nestas alturas, companheiros de acampamento. Enfim, colegas.                                                                                                                                                        Um deles tinha, com Lagarto, algo em comum: O corpo da morena.
Como eram colegas, riam e se aceitavam por causa disso, não se sentiam competidores.       A decisão ficava sempre a cargo da morena, ela escolhia com quem ficar.
   As vezes, em noites de festas, quando ficava em dúvida, sugeria rindo as gargalhadas,  pervertidamente, fantasiosamente, aos dois amantes, que a disputasse no palito, demonstrando gostar da situação, e que entre eles não existia sentimentalismo. 
   Ela, numa noite, depois de uma festa, quando estava com seu antigo namorado na barraca, pediu a este, procurar Lagarto, dizendo que estava com fantasia erótica, pretendia dormir com os, seus, dois amantes naquela noite, queria ele junto deles.

                         -Além de traidora incorrigível, é pervertida, sem vergonha,
                          depravada, safada, não vale nada...

      Lagarto, pensou...
  Mas apenas falou:

                         -Ela que vá procurar o marido...

     Riram, Lagarto e o outro amante da amante.
  Ele, regressou sozinho para junto dela. Lagarto, para junto do grupo de pessoas ao redor da fogueira e, de uma bela mulher, interesse seu naquele momento.
  Tratava-se de uma gaúcha...



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Trecho / capítulo IX -


                       SOLIDÃO
             DE COMIDAS E FLORES.  
            Alimentos exóticos e flores silvestres, eram armas de Conquista.  
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....Adquirindo experiências, Lagarto passava as semanas. Sentia satisfação com o privilégio de morar na praia da Solidão, testemunhando e apreciando fatos naturais raros.                                                                                                                                  Igual, como no amanhecer de um dia nublado, quando se dirigia para colher búzios, ser surpreendido com grande quantidade deles, nas pedras banhadas pelas ondas do mar.
   A maré estava baixa,
As ondas estavam calmas,
O mar fazia pouco barulho e,
Nas pedras,
Uma imagem surrealista,
Milhares de búzios grudados nelas.
   Parecia que todos os búzios do mar estavam naquelas pedras. Não se movimentavam, uns sobre os outros, uma convenção de búzios, parecia. De diversos tamanhos, tipos, coloração, fazendo supor tratar-se de algumas espécies deste molusco marinho.
   Lagarto, emocionado com o raro momento da vida selvagem, observava curioso, o fenômeno.
Via que naquela hora do amanhecer, de um dia nublado, a quantidade de búzios que chegava com o movimento das ondas, parecia aumentando. Isto, uma grande ironia a ele, já que, poucos minutos antes, pretendia colher alguns para o almoço.
  Agora,
 na sua frente,                                                                                                                                                                                     milhares deles,                                                                                                                                                   alguns maiores que uma mão,                                                                                                                                                    ao alcance da mão.
   Sentado, numa pedra, estava feliz em apreciar aquela imagem...


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Trecho /capítulo X-

                                RECEITAS,
                  MAR DA SOLIDÃO.
                  Descoberta alimentar, experimental,
                                De um aventureiro selvagem.
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... na frente de um mar rico em alimentos, de um mato onde, mesmo com dificuldades, se encontrava frutas silvestres, e até verduras, como espinafre, chuchu, agrião, tomate cereja e brotos de bambu, necessidades alimentares não fazia parte de quem acampava na praia da Solidão. Tudo que se precisava fazer para conseguir comida, era colher da mesma forma como colonizador de terra selvagem, ao lado de onde morava.
   Com o passar dos dias, Lagarto, se especializou no preparo de pratos apetitosos de cor e sabor.  
   Assim, para que suas receitas, com ingredientes da praia da Solidão, não se perdessem no tempo, registrou-as, cuidadosamente por escrito, para guardar como lembrança.
   Chamou-as de: As receitas na solidão do Lagarto.

B) TAINHOTAS ASSADAS A MODA SOLIDÃO.  
  Ingredientes:
      - Dez tainhotas, recém saídas do mar.
      - Três limões.    
Modo de preparo:
-Após acender um braseiro, colocar os peixes sobre a grelha, sem remover escamas e vísceras.
- Deixar assar totalmente num lado, só virar quando os peixes soltarem-se da grelha.
- Ao estarem totalmente assados, dos dois lados, com uma faca raspar as escamas dos peixes, abrir os peixes e retirar as vísceras, que assadas, ficam endurecidas e soltas.
         -Comer por inteiros, apenas espremendo limão sobre eles.                                                                                     
        -Servir para quatro pessoas.



C)    CALDO DE EXTRATO DE TATUIRA E ESPINAFRE SOLIDÃO.
             Ingredientes:
    - Quatrocentos mililitros de extrato de tatuiras*.
    - Doze tomates cereja.
    - Duas cebolas.
    - Tempero verde.
    - Meio maço de espinafre.
 Modo de preparo:
              - Numa panela, ferver o extrato de tatuiras em três litros de água.
- Numa frigideira, fritar em azeite de oliva, as cebolas cortadas em cubos, os tomates cortados em quatro partes, e refogar com os temperos verdes, cortados finos, junto com o espinafre.
            - Após, misturar o refogado na panela com o extrato de tatuira.
- Mexer e deixar ferver por mais cinco minutos.                                                                                                                         Servir para cinco pessoas.      
                                 (*o livro ensina como extrair o extrato de tatuiras)

H)   SALADA DE ALGA E AGRIÃO SOLIDÃO.
Ingredientes:
               - Meio maço de algas processadas*.
               - Meio maço de agrião silvestre.
               - Uma cebola grande.
               - Um limão.
Modo de preparar:
    -Picar a alga e o agrião.
                -Cortar a cebola em rodelas finas.
                - Espremer o limão.
                -Acrescentar azeite de oliva e duas pitadas de sal.
                 Misturar e servir como acompanhamento.
                                          (*o livro ensina como processar algas)

I)  ESPETINHOS DE BÚZIOS E CASTELAS SOLIDÃO.
             Ingredientes:
- Quatro dúzias de búzios, tamanhos de médios a grandes, limpos.
-Três dúzias de castelas, tamanhos grandes, limpas.
-Três dúzias de tomate cereja.
-Duas dúzias de cebolas, tamanho pequenas.
- Três limões.
Modo de preparar:                                                                                                                                                                                     -Espetar os ingredientes em espetinhos de bambu, assim distribuídos em cada um: quatro búzios, três castelas, três tomates e duas cebolas.
-Assar até tostar.
            - Ao estarem assados, espremer limão em cima e comer.
            -Rende uma dúzia de espetinhos.
            Servir como aperitivo, ou acompanhamento.


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Trecho / capítulo XI-

                      PERIGOS
                      NO MAR E NA AREIA.
                       Para ele, os riscos estavam em todos os lugares.
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...A água estava fria,                                                                                                                                                as ondas estavam normais.
   Avançou nadando até não conseguir, mais, colocar os pés no fundo.
Durante dez minutos, nadou e mergulhou, não se importando com a temperatura gelada da água.
Ao tentar nadar de volta, para a praia, assustou-se por não conseguir avançar.                                                                                                          Ao contrario, estava,                                                                                                                                                                                    cada vez afastando-se mais.                                                                                                                                 Forçava nadar aproveitando a onda, na esperança de avançar e, nada conseguia,                                                                                                                                                a não ser, afastar-se mais. 
     Olhou toda a extensão da praia em busca de alguém a quem pudesse sinalizar e pedir ajuda, mas não avistou ninguém, a não ser, sua cadela Tulipa, correndo na praia naquela hora da manhã. Avistava-a praticando seu esporte favorito, corria e pulava, incomodava caranguejos, perturbava siris, tirava a tranqüilidade de tatuiras, deixava supor. Caso estivesse ao seu lado, diria para parar com aquilo, só para mostrar quem mandava. Pensou. Deu vontade de gritar com ela, caso não estivesse tão longe da praia, em apuros.
Cansado no mar.                                                                                                                                                A praia,                                                                                                                                                         de repente,
era algo distante, difícil de alcançar.
Nunca valorizou tanto, o simples fato de poder voltar a andar na areia da praia. 
Olhando, do mar, parecia estar a quilômetros de distancia, quase impossível de alcançar.                                                                                                                                                                                                       Dizem que quando a vida esta por um fio,                                                                                                                   toda existência passa na sua frente,                                                                                                                     como num filme.                                                                                                                                                                     Pura verdade.
Lagarto, pensou na família, na mãe, no pai, nos irmãos, nos amigos, nos professores, nas namoradas e, como não tinha inimigos, não pensou neles.
   O tempo passava.                                                                                                                                                Cada vez mais se afastava da praia.
Por sorte, não estava sendo levado em direção a pedras do costão, onde as ondas estavam batendo com força, fazendo enorme barulho e muita espuma branca.                                                                                                      Decididamente, nas rochas pontiagudas do costão, não teria a menor chance.
Procurou acalmar-se.

-Tenho que tentar alguma coisa, e logo, antes que a praia fique muito distante...                                                                                                                        

    Pensava.
    O mal estar, da bebedeira da noite anterior, o gosto ruim na boca, não sentia mais, nem lembrava mais, até a dor de cabeça havia passado.
                            
                  -Preciso fazer alguma coisa...e logo...                                                                              

   Pensava obstinadamente...

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Trecho / capítulo XII- 
                 CARROS
                 NA SOLIDÃO.
                 A paisagem foi a mesma milhares de anos,
                 Agora mudava para sempre.
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...a imagem natural da praia da Solidão estava mudando.
Se antes, não se avistava nenhuma construção sólida,                                                                                                            apenas frágeis barracas com bandeiras em mastros de varas de bambu,                                                                                                    agora, era destaque na praia, uma pequena casa, meia água, de madeira, cercada com arame farpado.
    Num outro local, destacando-se no descampado do morro, surgia nova área para uma moradia, esta do pescador que salvou campista de se afogar no mar, semanas atrás.
Logo, ali também, terá uma casinha de madeira cercada de arame farpado. A certeza vinha dos moirões de cerca plantados, derrubamento das arvores e, limpeza a base de fogo na vegetação seca.
A paisagem da praia mudava.
      O preto da queimada contrastava com o verde do morro, sendo visível a quilômetros, até do Pântano do Sul.
Também, carros e ônibus, nunca vistos antes, agora, comumente estavam na área, com suas cores misturando-se a imagem da praia. 
     Alguns motoristas, arrogantes, estacionavam seus amados veículos na areia da praia, bem próximos da água do mar, parecendo poderosos do mundo, conquistadores da Solidão.
    Chamava atenção um motorista afoito, num dia, quando, querendo mostrar sua alegria por ter chegado a Solidão, apresentava, a quem quisesse ver, alto potencial de talento para ser piloto de corridas, com voltas velozes na areia da praia, arrancadas e brecadas, ou quando girava e acelerava bruscamente o carro, jogando areia para todos os lados.                                                                                                                                               Não satisfeito, acelerava até beira da água, respingando-a, numa nuvem, para a esquerda, direita e para cima.
Uma situação perturbadora, a quem observava.
Estava preocupando.
Talvez, sua inteligência fosse maior do que aparentava, e ele, piloto de manobras na praia, só estava lavando com a água do mar seu potente e estimado automóvel.
Mas, se alguém, que o observava, pensou isso, se enganou, ao vê-lo encalhado na areia, após uma das suas, agora ja famosas, manobras executadas.
Por mais que acelerasse, não conseguia sair do lugar, apenas fazia com que os pneus perdessem tração, afundando-os ainda mais na areia.
O carro teria ficado ali, disponível para a maré alta, caso não tivesse ninguém para ajudar. Para a sorte deste motorista, naquele momento havia alguns campistas, além de Lagarto, dispostos a empurrar o pesado veículo. 
     Assim que o veículo ficou em lugar firme, agradeceu ajuda, e saiu dirigindo da mesma forma como chegou: Através da estrada recém aberta através do morro, até a praia da Solidão.                                                                                                                                                                                                                                       De um antigo caminho de pescadores...       

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Trecho / capítulo XIII-

                                    DE VOLTA
                    PARA A SOLIDÃO.
                    Visitando a praia da Solidão,
                                    depois de muito tempo.
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            (O capítulo XIII, é uma estória ilustrada com 73 quadrinhos. Aqui, parte do roteiro.)

Quadrinho 28.
                           Balão 1:    - O mar continua o mesmo.
                        Balão 2:      - Mas, a paisagem mudou.    
Quadrinho 29.
                    Legenda: - A quantidade de construções em frente a praia, decepciona-o.
                    Balão único: - Olha , que coisa...
Quadrinho 30.
                          Balão único: - Pousadas, casarões, restaurantes...
Quadrinho 31.
                           Balão único: -... Ponte sobre o riacho da cachoeirinha... 
Quadrinho 32.
                     Balão 1: -Até ruas, agora existe.
                     Balão 2: - Esgotos também.
Quadrinho 33.
                     Balão único: -Aqui, cobras circulava...
Quadrinho 34.
                      Legenda:  Reclamava, sozinho.
                      Balão único: - Uma tristeza ver tudo isso.
Quadrinho 35.
                       Balão único: -É o símbolo da cobiça das pessoas.
Quadrinho 36.
                       Balão único: - Coisa de mané.         
Quadrinho 37.
                       Legenda: Isto o deixava ranzinza.
                       Balão 1: - Podiam ter construído estes casarões, em lugares      
                                         Povoados.
                       Balão 2: - E, ter deixado a praia, da Solidão, como foi milhares de .
                                        Anos.        
                                        (continua, com ilustrações, no livro).